A Educação da Criança



       O que se diz a criança, o que se ensina a criança, não a impressiona. Mas como você realmente é, se você é bom e expressa esta bondade em seus gestos ou se você é bravo ou raivoso o expressa isso em seus gestos, em suma, tudo que você mesmo faz prossegue dentro da criança. Isso é essencial. Acriança é, toda ela, um órgão sensorial, ela reage a todas impressões que são estimuladas nela por outras pessoas. Portanto é essencial que não se pense que a criança seja capaz de aprender (pela razão) o que é bom, ou que é ruim. Mas é essencial que se saiba que tudo que é feito na proximidade da criança é transformado no organismo infantil em espírito, em alma e em corpo. A saúde da criança durante toda a vida vai depender de como nos portamos em sua proximidade. As tendências que a criança desenvolve dependem de como nos comportamos perto dela.

Rudolf Steiner

Texto extraído do livro "Criança Querida" de Renate Keller Ignacio

              "Quanto menor é a criança, menos ela obedece ao adulto. Podemos dizer mil vezes a uma criança: “Faça isto, fique quieta, faça aquilo”, e é como se nada tivéssemos dito. A criança pequena não age porque nós mandamos, porque quer ser uma menina “boazinha”, mas de forma totalmente impulsiva, inconsciente. Conforme as forças formativas estão trabalhando em seu interior, num movimento rítmico, a criança age para fora, ora pulando, ora deitando no chão, ora juntando pedrinhas no bolso e, na mesma hora já despejando tudo no chão. “Não faça isso, filhinha!” “Pare de pular, Joãozinho!” Os adultos gritam, muitas vezes irritados com essa atividade constante e com sua impotência em comandar os pequeninos como querem. O fato é que as crianças não tem capacidade de compreender o porquê do permitido e do proibido.

             Mas, como é que nós podemos trazer ordem a esse caos? Que podemos fazer para que as crianças arrumem seus brinquedos, ou façam uma roda, ou entrem em casa depois de brincar lá fora? A palavra mágica é “imitação”. Nada podemos conseguir com as crianças pequenas, principalmente com as menores de quatro anos, senão dando o exemplo, fazendo antes para que a criança possa nos imitar. Se eu pegar um pauzinho e colocá-lo na cesta, a criança que está ao meu lado vai imitar este gesto imediatamente. Se eu ainda acompanhar esses gestos com músicas ou versos rítmicos, então a criança vai imitar-me com mais prazer.

             Com as crianças acima de três ou quatro anos, já podemos conversar de maneira diferente. Uma pequena parte daquela força formativa, que permeava por inteiro o corpo da criança antes dos três anos, libertou-se do físico e vive agora em sua alma, como fantasia infantil.

          Nessa idade, de três a cinco anos, a criança brinca realmente, mas sem persistir muito tempo na mesma brincadeira. Seu brincar é leve, dançando, transformando tudo. Um pauzinho pode ser uma boneca que ela abraça carinhosamente; logo depois, já joga no chão porque viu outra coisa mais interessante: uma casca de coco que lhe serve de chapéu; ela é soldado e anda contando, marchando pela sala. Quando tira o coco da cabeça, ela acha pedrinhas que põe em sua panelinha, para fazer comida para seus filhinhos, e assim por diante.

           A fantasia da criança não conhece limites, pinta um quadro atrás do outro, conta uma história atrás da outra. Se quisermos conversar com uma criança desta idade, temos de entrar no seu mundo movimentado. E isso às vezes é muito difícil, pois nossa cabeça já está dura, não temos idéias. Perto da fantasia das crianças, nossas idéias parecem uma pedra cinzenta ao lado de uma borboleta. Mas, se quisermos trabalhar com crianças dessa idade, temos de pôr nossa cabeça em movimento, temos de desenvolver nossa fantasia. Os melhores professores para isso são as próprias crianças.

         Por exemplo: um grupo de crianças montou uma gruta no meio da floresta, com galhos de árvores e pedras. No meio da floresta, as crianças puseram muitos bichinhos de madeira, e na gruta, esconderam os anões. Chegou a hora de arrumar. Então, em vez de dizermos: “Crianças, vamos arrumar, esta na hora”, vamos falar assim: “Você, Pedro, é o pastor que leva todos os animais para o estábulo. Já está de noite, eles precisam ir embora para descansar. E os anões já trabalharam muito dentro da montanha, vamos levá-los para sua casa. Agora, temos que chamar um lenhador. Você, José, quer ser o lenhador que põe toda essa madeira no seu caminhão?” E assim, sem interromper a brincadeira das crianças, podemos levá-las a fazer aquilo que precisa ser feito para seguir o ritmo do dia, neste caso, arrumar. ”

            Outra fonte de imagens são os contos de fada: eles não descrevem acontecimentos reais, mas são imagens que espelham o que se passa dentro da alma humana. O príncipe e a princesa, o lenhador, a madrasta, o caçador, o soldado são imagens para qualidades de nossa alma. Todas as pessoas tem dentro de si uma princesa, e todos conhecem também o dragão, aquela força escura, explosiva, descontrolada, inconsciente, que ás vezes ameaça devorar a princesa, nosso ideal mais puro, mais íntimo. Também conhecemos o que significa perder-se na floresta e não achar o caminho de casa. As crianças compreendem estas imagens de uma forma direta. Elas vivem em imagens. Podemos, então, dizer para um menino que chuta, bate, esperneia descontroladamente: “Pedro, segure as rédeas, seu cavalo está disparando. Você precisa aprender a ser um bom cavaleiro”. Esta imagem vai tocá-lo muito mais profundamente do que se eu disser simplesmente: “Pare com isto! Bater é feio!”

Fonte: texto extraído do livro "Criança Querida" de Renate Keller Ignacio

Seu filho escolheu você. E isso muda tudo

Dr. Aranha, médico antroposófico, fala sobre a preparação espiritual para o nascimento de um bebê mesmo antes da concepção



             Assim que a mulher descobre que terá um filho, um sentimento solene desperta: o de que a ela foi dada uma tarefa muito importante, de que nela se opera uma vontade divina. E assim ela se abre em devoção a esse ser que está por vir, renuncia a seus desejos muitas vezes, abre mão de confortos e vaidades. Mas, antes mesmo desse momento, antes mesmo da concepção, a criança já existia como indivíduo no mundo espiritual. Não era visível fisicamente, mas já estava lá. De acordo com Rudolf Steiner, o criador da antroposofia, pode-se dizer que da mesma maneira que o pai e a mãe se preparam, aguardam e sonham com a chegada dessa criança, aquele espírito também se preparou ao escolher seus pais, os que tornarão possível sua vinda e estadia aqui na Terra.

          Nos tempos antigos, as mães eram profundamente conectadas com a criança que estava por vir. Não é à toa que nos deparamos com contos de fada em que a chegada de uma criança é anunciada muito antes da gravidez por todo tipo de seres. Em A Bela Adormecida, por exemplo, um sapo anuncia à rainha que ela dará a luz a uma linda menina. E, claro, há a Bíblia, em que Maria recebeu esse anúncio pela voz de um anjo.

         Esse momento mágico, quando a mulher percebe a aproximação de um ser antes mesmo que sua primeira célula exista, foi retratado por artistas como Rafael e Leonardo da Vinci. Naqueles tempos, esse sentimento tinha um enorme significado. Mesmo nos dias de hoje, em que somos mais terrenos, há mulheres que encontram seus filhos em sonhos bem antes do nascimento. E, ao finalmente verem a criança, percebem que se parece muito com o que sonharam. Atualmente, o último lampejo do que acontecia a séculos atrás pode ser reconhecido, talvez, no repentino desejo de uma mulher ter um filho. Mas essa vontade surge de uma maneira tão delicada que pode facilmente ficar encoberta por medos, vaidades e inseguranças.

        Cria-se uma enorme diferença quando colocamos a vontade da criança em primeiro plano, quando consideramos que ela escolheu seus pais, sua família e até mesmo o momento do seu nascimento como a melhor hora para que realize tudo o que precisa aqui cumprir. Se considerarmos apenas uma vontade de pais e médicos, muitas vezes baseada em questões financeiras, conveniências, preconceitos ou modismos, teremos consequências ao longo da vida desse novo ser. A criança que anuncia sua chegada, escolhendo seus pais em um determinado momento, não compreende, naturalmente, essas razões. Apenas sentirá a resistência ou oposição à sua vinda. E esse sentimento vai afetar seu desenvolvimento mais tarde, não importa o que se passe de fato. Cabe a nós, portanto, ampliarmos nossa consciência e estender um tapete vermelho para esse ser desde os tempos em que ele é apenas um sonho, apenas um lampejo. Estender um tapete vermelho de boas-vindas aos que escolheram povoar esse planeta através de nós.

Por Antonio Carlos de Souza Aranha, médico antroposófico
Imagem Ruth ElsässerI

Fonte: http://antesqueelescrescam.com/2014/04/09/seu-filho-escolheu-voce-e-isso-muda-tudo/
          
"A sabedoria da antiguidade considerava a criança uma planta delicada que precisava do braço do ambiente materno para não ficar atrofiada. Acreditava-se que o pai iria deformar o filho. Portanto, a fim de fazê-lo desenvolver adequadamente, os beijos e carícias da mãe eram consideradas necessárias.

         O poderoso e envolvente amor da mulher é necessário para defender a alma, amedrontada pelos ataques da vida externa. Porque em plena consciência ela cumpria estas elevadas funções consideradas divinas pela antiguidade, a mulher era realmente a sacerdotisa da família, a guardiã do fogo sagrado da vida (...)"


Rudolf Steiner, fragmento extraído de "A Ordem e o Ensino" - O Adepto - A Mulher Iniciada - Amor e Casamento



As festas do ano



         Nossa proposta pedagógica respeita o aluno, oferecendo-lhe conteúdos necessários para seu desenvolvimento de acordo com a etapa em que está. Nossa meta é que as crianças amadureçam naturalmente, através do desenvolvimento de capacidades básicas, e que isso favoreça a formação de indivíduos decididos, cheios de imaginação e criatividade, com senso de responsabilidade social, percepção aguçada e pensamento claro, além da capacidade de avaliar as situações da vida e o sentimento pleno de estarmos vivos, presentes e atuantes no mundo. Na Pedagogia Waldorf, as crianças se deixam levar pelos ritmos do Universo em que vivem: dos ritmos biológicos de respiração, pulsação, circulação sanguínea e sono/ vigília às estações do ano.


As Festas Do Ano

         Na Pedagogia Waldorf, o ritmo do ano também é marcado nas comemorações festivas. Tanto a preparação da festa como a própria participação nela encantam as crianças. A vivência desse processo por inteiro ajuda-as a identificar o pertencimento a uma pequena comunidade social, o que será fundamental para sua vida futura.

         Elas sentem-se muito felizes em decorar a escola, preparar pratos especiais, aprender canções e versos escolhidos para a época. Os contos e as histórias ajudam na vivência do que está por trás da Festa, seu conteúdo simbólico. Os educadores preparam certas atividades que permitem o trabalho com as qualidades arquetípicas da época ou estação: valentia e coragem em Micael, força regeneradora para os dias de Primavera, sentido de reverência e expectativa que acompanha o Advento (em dezembro), a possibilidade de transformação que envolve o Outono e a Páscoa.

          A mesa de época orienta o aluno quanto às transformações que ocorrem na natureza: o Outono traz as folhas secas que encontramos caídas no pátio da escola; o Inverno é austero e frio; a Primavera traz cores e perfumes; e o Verão, muita luz e calor.

              Os educadores devem trabalhar em conjunto com as famílias, pois têm como meta básica fazer com que os pais acompanhem de perto o desenvolvimento de seus filhos. Nesse processo, escola e família trabalham conscientemente para a formação harmoniosa das crianças.